Viagem de vereadores derrotados a simpósio pode custar mais de R$ 25 mil aos cofres públicos
Pagamentos para mesmo paciente que não teve cirurgia realizada ultrapassaram R$ 1,5 milhão: "sinto muita dor"
Foram direcionados recursos para 20 procedimentos do seu João, que nunca foi operado
João Ventura Farias, de 57 anos, foi uma das vítimas de um suposto esquema de desvio de recursos envolvendo a Secretaria Municipal de Saúde de Sorriso e empresas privadas. Estima-se que o prejuízo causado aos cofres públicos supere o montante de R$ 3 milhões, dos quais mais de R$ 1,5 milhão foi desviado para o pagamento de 20 procedimentos de um mesmo paciente, mas que nunca foi operado.
O senhor João, que reside em Sorriso desde 2002, entrou com pedido na justiça para a realização de uma cirurgia na coluna em 2015. Apesar do deferimento, o procedimento ainda não foi realizado. No entanto, foram feitos 20 pagamentos com valores entre R$ 35 e R$ 105 mil por procedimentos médicos liberados em função do seu processo judicial.
"É uma situação triste porque faz tempo que estou pelejando para fazer essa cirurgia, e até hoje não fiz. Na época, falaram em R$ 118 mil essa cirurgia da coluna. Nunca assinei nada. Em 2019 ligaram sobre a liberação da cirurgia. É uma cirurgia grande porque tenho que colocar 16 pinos na coluna e eu sinto muita dor", lamentou João, que foi hoje à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das liminares da Saúde da Câmara de Vereadores. Ele esteve acompanhado dos seus advogados.
Conforme João, Samantha Nicia Rosa Chocair, sócia-administradora das empresas Chocair Consultórios e Clínica Bem Estar Ltda (Sociedade Empresária Limitada), apontada como suspeita de envolvimento no esquema, chegou a ir à casa dele, há menos de um mês, para comunicar que sua cirurgia seria feita em Primavera do Leste. Ela também apareceu na casa do paciente em outras duas ocasiões, quando chegou a solicitar fotos de documentos e exames, os quais não foram concedidos.
"Eu vi aquele problema na televisão e eu não assinei, e ela não voltou mais. Recentemente, recebi ligação de Cuiabá, do Hospital Metropolitano", disse João, acrescentando que ainda aguarda uma ressonância e que o procedimento ainda não foi agendado.
Demais testemunhas
O ex-secretário de Saúde, Luís Fábio Marchioro, foi novamente ouvido e repassou informações sobre o funcionamento dos trâmites burocráticos na pasta e falou sobre a operação do Gaeco. "Eu acho até que poderia acontecer antes. É natural que eu assinando as notas fiscais também seja investigado. Mas eu nunca fiz nada de errado, nunca peguei nada que não fosse meu. Eu não estou fugindo".
No plenário, Marchioro chorou ao mencionar que os policiais do Gaeco tenham ido à casa da esposa dele. Da residência foram coletados o celular pessoal dele e documentos que estavam em uma pasta, que contém ofícios e denúncias que ele fez referente ao caso.
O secretário-adjunto Devanil Barbosa citou que o departamento jurídico era um setor de um apoio judicial. "Ele advém de outra gestão para auxiliar algumas demandas e não somente liminar, como internação compulsória", explicou.
Barbosa disse que conheceu Samantha e reafirmou que ela frequentava a Secretaria de Saúde. "Ela era conhecida de todos da Secretaria porque ela era também administrativa da antiga OSCIP que atuava aqui. Mas conhecer não significa ter amizade com ela, tanto que até esse ano eu não tinha conhecimento dessas empresas dela. Sou servidor desde 2003 e estamos todos nessa situação de inquietação".
Na tribuna, vereadores voltaram a defender a quebra de sigilo bancário e fiscal dos suspeitos envolvidos no caso.